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Violência sexual contra jovem adulta, estupro no cursinho


Estudava no pré-vestibular para Medicina. Estava deprimida e me sentindo abandonada e sozinha. Nunca estive tão mal. O abusador era meu professor de história e no início parecia uma figura amiga e paterna.

Era casado e 21 anos mais velho que eu, na época eu tinha 18 para 19. Não sei ao certo como tudo aconteceu. Mas eu me sentia cuidada por ele. Ele me dava carona para casa, me levava comida, me emprestava casaco na aula. Eram pequenas atitudes que ninguém fazia por mim. Ele me ouvia, me elogiava. Eu me sentia muito especial e muito dependente daquele carinho. 

Aos poucos acabou ficando como a pessoa mais próxima de mim. Ninguém sabia disso. Eu me sentia muito confusa com o que estava acontecendo. Mas me sentia protegida e cuidada, algo que eu sentia tanta falta naquela fase ruim da minha vida. 

De figura paterna, ele começou a se transformar em algo com conotação sexual. Isso começou a ficar ainda mais confuso e perturbador pra mim. Lembro de estar lendo Lolita na época e me identificar com a personagem, nunca terminei o livro porque me dói. A única pessoa que cuidava de mim estava querendo algo em troca por todo o cuidado. E ao mesmo tempo que eu não queria me transformar em algo além de sua aluna, eu não queria perder o cuidado. Ele passava a mão em mim e eu simplesmente deixava. Até que uma vez ele pegou minha mão e passou no pênis dele, quando eu tava voltando de carona. Eu paralisei. 

Outra vez ele me agarrou e deu um beijo. Também paralisei. E todas as vezes eu esquecia minutos depois. Tentava acreditar que não era nada. Não contava pra ninguém. Fazia terapia na época e contei algumas coisas para minha psico, ela disse que “eu estava deixando porque queria”. Acontece que eu não queria, eu só não sabia como dizer não. Também não queria perder um suposto cuidado. Levei um tempo para aprender a me cuidar sozinha.

Depois disso, só piorou. Um dia ele me buscou em casa sem dizer para onde íamos e fomos para um motel. Foi horrível. Eu não lembro de quase nada e prefiro não falar sobre isso. Depois que isso aconteceu eu decidi que tinha chegado no fundo do poço. E pior do que aquilo nunca poderia ficar. Então não faria sentido aceitar um cuidado em troca da minha integridade. Se esse era o preço então eu teria que aprender a me cuidar. 

Eu simplesmente sumi. Parei de ir nas aulas. Apaguei e bloqueei o contato dele. Mas ainda recebia ameaças do tipo “vou me matar”, “todos os professores sabem”, coisas assim. Me sentia totalmente vulnerável. A qualquer momento todos poderiam saber de tudo. Eu só queria apagar toda história. Depois disso eu resolvi fingir que absolutamente nada disso tinha acontecido comigo. E de fato lembro de poucas coisas. Abstrai totalmente. Segui minha vida. Entrei na faculdade. Hoje em dia ainda não consigo falar disso pra ninguém. 

Às vezes tenho pesadelos. Mas são cada vez menos frequentes. Também algumas fobias. Fico muito nervosa se penso que algum professor está me assediando. Mas aos poucos aprendi a me blindar contra esses FILHOS DA PUTA. Ouvi falar que o professor apanhou na rua e também que foi processado. Aparentemente eu era a vítima mais paralisada dele...  mas não estava sozinha.


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